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Secas na Amazônia Ampliam Procura por Atendimento Psicológico em Comunidades Ribeirinhas

  • Foto do escritor: Bianca Gloria
    Bianca Gloria
  • 29 de jan.
  • 2 min de leitura

Foto: Assessoria FAS
Foto: Assessoria FAS

Teleconsultas da FAS registram aumento de 18% em 2024, com queixas ligadas à "ecoansiedade" e isolamento causado pela estiagem


A severa estiagem que castiga os rios da Amazônia em 2023 não só secou igarapés e isolou comunidades, mas também intensificou uma crise silenciosa: o impacto na saúde mental de indígenas e ribeirinhos. Diante da escassez de água, alimentos e medicamentos, a Fundação Amazônia Sustentável (FAS) registrou um aumento de 18% nos teleatendimentos psicológicos este ano, com queixas relacionadas à ansiedade climática, depressão e conflitos familiares.


A Crise por Trás dos Números

Entre agosto e outubro de 2023, a FAS realizou mais de 50 sessões de psicoterapia remotas, das quais 23% (sete casos) tiveram como principal queixa os efeitos da estiagem. Já entre setembro e outubro, esse índice subiu para 33% (oito casos) em 24 atendimentos. Os relatos incluem sintomas como depressão e sensação de desesperança, transtorno do estresse pós-traumático (TEPT), conflitos familiares e conjugais, fobia social e luto.


Segundo Cristina Maranghello, psicóloga responsável pelo serviço, a seca alterou drasticamente a rotina das comunidades. "A insegurança sobre o futuro e a vulnerabilidade econômica intensificaram as preocupações. Antes, as queixas eram sobre desafios cotidianos; hoje, são sobre sobrevivência", explica.


Isolamento e Consequências Diárias

Com os rios secos, o transporte de insumos básicos ficou inviável, afetando o acesso a água potável, alimentos e remédios. Escolas fecharam, a energia elétrica tornou-se instável, e famílias passaram a conviver em espaços reduzidos por mais tempo, alimentando tensões. "O calor extremo também reduziu a prática de atividades físicas, essenciais para equilibrar hormônios ligados ao bem-estar", complementa Mickela Souza Costa, gerente do Programa Saúde na Floresta da FAS.


Ecoansiedade: Quando o Clima Afeta a Mente

O termo "ecoansiedade", cunhado pela pesquisadora americana Susan Clayton, reflete o medo crônico diante das mudanças climáticas. Um estudo de 2021 da revista The Lancet Planetary Health apontou que 60% dos jovens brasileiros entre 16 e 25 anos se declaram "extremamente preocupados" com o tema. Na Amazônia, porém, a crise não é abstrata: é vivida na pele.


"Essas populações dependem diretamente do equilíbrio ambiental para subsistir. A seca traz consequências imediatas, como perda de renda e escassez de recursos", destaca Maranghello. Embora a "ecoansiedade" não seja reconhecida como diagnóstico oficial, seus sintomas – como impotência e desesperança – são cada vez mais relatados.


O Papel da FAS e o Caminho Adiante

Criado durante a pandemia de COVID-19, o programa de telessaúde mental da FAS tornou-se vital para comunidades remotas. Além das sessões individuais, a instituição promove webpalestras e rodas de conversa para abordar o tema com realismo e esperança. "A psicoterapia fortalece emocionalmente as famílias para enfrentar adversidades", afirma Costa.


Para o futuro, Maranghello defende o acesso a conhecimento sobre mudanças climáticas, iniciativas sustentáveis para reduzir impactos ambientais locais e o protagonismo das comunidades na busca por resiliência.


Enquanto o mundo debate o clima, na Amazônia, a crise já chegou – e exige respostas que vão além da ecologia, alcançando a saúde daqueles que mantêm a floresta em pé.

 
 
 

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